Declaração da Amigos da Terra África em Solidariedade com a Palestina

No dia 15 de maio, o mundo assinalará o 77º aniversário da Nakba – palavra árabe que significa “catástrofe” – que comemora a deslocação em massa de mais de 700.000 palestinianos após a criação do Estado de Israel em 1948. Apoiado pelo Plano de Partilha das Nações Unidas, Israel foi esculpido na Palestina histórica sem o consentimento da sua população indígena árabe. O plano favoreceu desproporcionadamente a minoria judaica, deixando a maioria palestiniana despojada e sem Estado. As aldeias foram eliminadas, as famílias desenraizadas e teve início uma crise de refugiados que se prolonga até aos dias de hoje. A Nakba não foi um acontecimento isolado, mas o início de uma campanha contínua de deslocação, ocupação e apartheid.

Do ponto de vista ambiental, a agressão militar de Israel também perpetrou um ecocídio generalizado – a destruição sistemática do ecossistema natural. As terras agrícolas foram dizimadas, os olivais arrasados, as fontes de água poluídas e as infra-estruturas essenciais destruídas. O bloqueio impede os palestinianos de gerirem os seus resíduos, de terem acesso a água potável e de praticarem a agricultura – violando o seu direito a um ambiente saudável. Esta devastação ambiental não é um dano colateral, faz parte de uma estratégia mais alargada que visa tanto as pessoas como os ecossistemas.

Desde a operação Tufan Al-Aqsa de 7 de outubro de 2023, a campanha sistemática de Israel de deslocação, ocupação e terror adquiriu um novo e horrível sentido de determinação. Israel lançou uma ofensiva militar implacável e desproporcionada, tornando flagrante o genocídio em curso e eliminando qualquer pretensão de contenção que ainda restasse. A escala e a brutalidade dos ataques não deixaram dúvidas quanto à intenção de Israel, pois comunidades inteiras em Gaza foram sujeitas a ataques aéreos indiscriminados, deslocações forçadas e castigos colectivos. O ataque deliberado a infra-estruturas civis – hospitais, escolas e até campos de refugiados – revela um esforço sistemático não só para esmagar qualquer forma de resistência, mas também para apagar um povo, a sua história e o seu futuro. O que antes era uma ocupação secreta foi agora exposto pelo que realmente é: uma violenta campanha de limpeza étnica.

Apesar dos protestos internacionais, os apelos ao cessar-fogo foram ignorados ou explorados. Os comboios de ajuda humanitária foram bloqueados ou atacados, as tréguas foram violadas e a destruição segue o seu rumo impunemente. Gaza enfrenta a fome, as deslocações em massa e a destruição de comunidades inteiras.

Enquanto isso, o Norte Global – especialmente os EUA, a Alemanha e o Reino Unido – continua a oferecer a Israel cobertura política, ajuda militar e imunidade diplomática. Outros, incluindo grande parte da UE e os principais organismos internacionais, permanecem em silêncio. A sua cumplicidade, activa ou passiva, permite esta catástrofe.

O Sul Global conhece a dor do colonialismo e das deslocações forçadas. Como africanos, vemos ecos das nossas próprias lutas na situação dos palestinianos – e com esse reconhecimento vem a responsabilidade. A nossa solidariedade deve ser mais forte e mais orientada para a acção.

Há muito tempo que África mantém laços históricos profundos com a Palestina. Desde as lutas anticoloniais até às experiências partilhadas de opressão, as nações africanas têm apoiado consistentemente o direito da Palestina à autodeterminação. A União Africana deve recordar esta história, honrando os laços de solidariedade entre África e a Palestina. É imperativo que a União Africana se mantenha firme no seu compromisso com a justiça, assegurando que as vozes dos oprimidos não sejam silenciadas por conveniência política ou interesses económicos.

Nos últimos anos, várias nações africanas reforçaram a sua posição de apoio aos direitos dos palestinianos. A África do Sul, moldada pela sua própria luta anti-apartheid, intentou uma acção legal contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ). Mas a liderança moral também exige responsabilidade económica. Enquanto fornecedor de carvão a Israel, a África do Sul deveria pôr um fim a essas exportações – seguindo o exemplo da Colômbia – para ajudar a cortar a linha de vida da máquina de guerra de Israel. Um embargo energético enviaria uma mensagem poderosa, cortando o apoio à agressão militar e reforçando o compromisso de África com a justiça climática e uma transição energética justa.

Outros países sem laços comerciais directos também têm um papel a desempenhar. Os boicotes económicos aos produtos israelitas são vitais. Os consumidores de todo o mundo devem pressionar as empresas cúmplices da ocupação. Rejeitar a cumplicidade económica é uma forma pacífica e poderosa de resistência, como defende o movimento global BDS.

Os recursos de África – há muito explorados pelas potências imperiais – não devem ser utilizados para sustentar a opressão. A unidade continental é essencial para reivindicar o nosso poder e construir um futuro assente na justiça.

A Amigos da Terra África está lado a lado com o povo palestiniano. Apelamos às nações, comunidades e movimentos africanos para que tomem medidas e ajudem a acabar com o genocídio perpetrado por Israel, desmantelar o apartheid e exigir justiça e dignidade para todos.